As transformações causam algumas dores; mas estas dores, na verdade, são propulsores que nos impulsionam do mínimo necessário ao máximo possível.
Liderar pessoas após a virada do milênio acabou sendo mais um item da lista de preocupações dos gestores de hoje devido ao grande número de transformações significantes que o mundo vem sofrendo [e a velocidade em que elas acontecem]. Pare por alguns instantes e pense nas últimas grandes transformações que você acompanhou ou vivenciou nos últimos 10 anos... Provavelmente, você perceberá que o mundo se transformou proporcionalmente à 30 anos. E este é o momento atual que vivemos... um caminho sem volta de constantes inovações e mudanças disruptivas.
No artigo anterior desta série, "A Liderança Positiva é a Competência do Futuro. Parte 01", observamos claramente que as transformações serão cada vez mais exponenciais e disruptivas em um período de tempo cada vez mais curto. Este fenômeno é visto em praticamente todos os ecossistemas da sociedade. Tomemos como exemplo o caso dos irmãos André e Edouard. No final do século 19 eles criaram algo revolucionário; o primeiro pneu de borracha de alta performance. Até então, o conceito de "roda" daquela época era algo muito semelhante ao que era visto nas carraças e carruagens. Esta grande inovação foi lançada em seu ecossistema alvo em 1895, e devido ao seu grande sucesso, os irmãos Michelin se tornaram mundialmente conhecidos.
Entretanto, não demorou muito para que outros dois irmãos - Walter Davies e Tom Davies - apresentassem ao mundo o que a indústria automotiva considerou como sendo a solução definitiva de um dos maiores problemas enfrentados pelos usuários de automóveis do início do século 20. Naquela época, as estradas ainda não haviam sido amplamente construídas, e consequentemente, muitos motoristas precisavam conduzir seus automóveis através de estradas barrentas, esburacadas e pedregosas. Por mais resistente que fossem, os pneus revolucionários dos irmãos Michelin não eram resistentes o suficiente. Como consequência, frequentemente os carros eram obrigados a parar, onde quer que estivessem, para que seu motorista pudesse retirar o pneu danificado e se locomover até a oficina mais próxima; que sempre ficara à quilômetros de distância do local da avaria.
Os motoristas simplesmente "largavam" o automóvel no local e
dedicavam 2 ou mais dias para alcançar a oficina mais próxima e comprar um novo pneu Michelin. Walter e Tom eram proprietários de uma "borracharia" na Irlanda; mais precisamente na Rua Stepney Road. Com o tempo os dois irmão se sensibilizaram pelo grande esforço dos motoristas e, movidos de empatia, decidiram criar o primeiro pneu substituível da história. Esta inovação foi um grande sucesso, pois qualquer pessoa seria capaz de trocar sozinho seu pneu, pois o mesmo era afixado e preso por um tipo de presilha de pressão que não demandava um ferramental e habilidades específicos para tal.
Esta nova solução rapidamente alcançou todo o mercado de seu ecossistema e ficou amplamente conhecida como o "Pneu da Stepney", e mais futuramente, se tornaria simplesmente o pneu "Estepe". Muitos estavam certos que o pneu estepe era a última e derradeira solução inovadora... mas, ainda haviam muitas transformações pela frente.
Após o grande sucesso dos irmãos Davies, os irmãos Michelin estabeleceram definitivamente sua fábrica de pneus; a Michelin Co. E em 1931 lançam o pneu de borracha vulcanizada com altíssima resistência, fazendo com que os pneus estepes ficassem quase que esquecidos em um compartimento discreto do automóvel. Logo em 1949, a empresa dos irmãos André e Edouard lançam ao mercado mais uma grande inovação: o pneu radial, que apresentou ao mercado um pneu muito mais resistente, estável e que possibilitava mais agilidade e facilidade com relação às trocas e reparos de furos.
E sim... furos ainda eram um problema. Então, em 1994 a Michelin apresenta ao mercado o pneu "Run-flat" que possibilitava uma rodagem de até 200 km mesmo após ser perfurado. Esta sim, seria uma inovação incontestável, se não fosse por um único problema: não era o pneu que tinha que ser trocado, e sim, a roda. O sistema de manutenção era muito difícil e complexo, o que fez com que os mecânicos recusassem prestar serviços para este tipo específico de pneus. A inovação não "vingou" em seu ecossistema.
Bem... durante um bom tempo o pneu radial tomou conta do mercado e outras grandes fabricantes também passaram a produzir e comercializar este tipo de pneu. Mas... os furos ainda eram um problema.
Foi então que, após anos de estudos e inúmeros protótipos, finalmente a Michelin lança no mercado o pneu definitivamente à prova de furos. Em 2019 a Michelin apresenta o pneu UPTIS [Unique Puncture-proof Tire System].
Diante deste fatos, até somos tentados a pensar que finalmente a Michelin chegara ao final de sua jornada inovadora, certo? A resposta é: ainda não! Se pararmos para refletir, embora o pneu UPTIS seja à prova de furos, ele ainda desgasta como todos os outros pneus, não é? Portanto, podemos considerar que a jornada inovadora da Michelin ainda não terminou! Neste sentido, a empresa está conduzindo estudos e já apresentou o primeiro protótipo de um pneu que não desgasta [ou algo muito próximo disso].
A esta altura, provavelmente uma pergunta seja inevitável: "O que tudo isso tem a ver com Liderança Positiva?" A resposta, evidentemente, é: tudo! Optamos em apresentar apenas um caso especifico de um único produto/ecossistema que sofreu inúmeras transformações ao longo dos anos [uma mais disruptiva que a outra]. O mais impressionante de tudo isso é que estas transformações só aconteceram porque as pessoas se transformaram antes. Nenhuma transformação acontece sem que a sociedade, a cultura, os hábitos e o mindset das pessoas se transformem antes. Como consequência, os meios e métodos de liderar estas pessoas precisam se adaptar na mesma velocidade e proporção. Este é o princípio da liderança positiva, também chamada de liderança ágil: relacionar o melhor das pessoas às demandas de trabalho de maneira ágil, segura e leve. Isso significa relacionar o talento certo ao trabalho certo. O líder passa a focar nas competências e aptidões dos liderados ao invés de suas falhas e/ou pontos de deficiência.
De acordo com a entrevista da Renata Rivetti, fundadora da Reconnect Happiness At Work, consultoria de felicidade corporativa, concedida à plataforma VOCÊ RH, a liderança positiva é um conjunto de práticas de gestão que objetiva desenvolver cada vez mais os pontos fortes dos liderados. De acordo com a Renata, “um dos principais pilares da liderança positiva é focar nas competências e experiências dos liderados e não em suas falhas”. Para isso, o ponto de partida é o líder; “o novo líder precisa entender suas próprias vulnerabilidades e medos, ajudando a equipe a se empoderar, sem que seja somente ele o provedor de ideias”. O líder que deseja exercer a liderança positiva precisa se atentar à 4 pilares:
Clima Positivo:
A liderança positiva preza por um bom clima organizacional, em que as pessoas mantêm uma relação saudável e agradável. Isso contribui significativamente para a produtividade, o engajamento e a motivação da equipe.
Por isso, para praticar esse tipo de liderança e conseguir um bom desempenho das atividades, é fundamental estabelecer confiança, reconhecimento, respeito mútuo, alegria e gratidão no dia a dia de trabalho.
Comunicação Positiva:
Outra característica da liderança positiva é exercer uma boa comunicação. Sem isso, é muito difícil promover um clima organizacional agradável e estabelecer boas relações interpessoais. Um líder positivo precisa saber como transmitir informações importantes para o desempenho da equipe. Isso inclui o aprimoramento dos pontos fortes de cada colaborador, a definição de metas e objetivos da organização.
Relações Positivas:
Assim como o clima organizacional, a qualidade dos relacionamentos entre os colaboradores afeta diretamente a produtividade e o desempenho da equipe. Por isso, outra característica marcante da liderança positiva é a construção e o cultivo de relações positivas, que se baseiam na colaboração e no respeito.
Significado Positivo:
A liderança positiva também tem como característica ajudar os colaboradores a construírem um significado positivo para o trabalho. Isso porque a percepção que eles têm afeta muito a produtividade, a motivação, a satisfação e o desempenho da equipe. Por isso, para que a empresa alcance os seus objetivos, retenha os melhores talentos e obtenha excelência em seus resultados, é crucial que essa percepção seja positiva.
Por fim, a liderança positiva é uma forma de gerenciamento muito eficaz para inspirar e transformar as pessoas da geração 4.0 de modo que sejam agentes catalisadores das próximas grandes inovações. Até aqui, observamos alguns fatores críticos para uma liderança positiva de sucesso... mas afinal, como começar a executar? Não percam o próximo artigo desta séria. Aguardem!
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