Como Ser Uma Organização Que Sempre Tira Vantagem Das Mudanças e Adversidades
- Denis Silveira
- 14 de fev. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2022
Resolução voltada à empresa mencionada no artigo "Por que Grandes Empresas Podem Parar de Inovar? O Que Fazer?"

Faz exatamente 49 anos que o soldado japonês Shoichi Yokoi foi encontrado nas selvas de Guam, uma minúscula ilha pertencente aos EUA localizada na sub-região da Micronésia no oeste do Oceano Pacífico. Yokoi era sargento do exército imperial japonês e viveu isolado nesta ilha por 28 anos após o final da Segunda Guerra Mundial.

Ele esteve escondido durante todo este tempo nas selvas de Guam, pois acreditava firmemente que a Guerra ainda não havia terminado e que seus ex-camaradas um dia voltariam para buscá-lo. E mesmo quando foi descoberto por caçadores locais na ilha do Pacífico, em 24 de Janeiro de 1972, o ex-soldado de 57 anos ainda se agarrava à noção de que sua vida estava em perigo.
"Ele realmente entrou em pânico", disse Omi Hatashin, sobrinho de Yokoi.
Surpreso ao ver outros humanos depois de tantos anos sozinho, Yokoi tentou agarrar um de seus rifles enferrujados com a ação do tempo, mas enfraquecido por anos de dieta pobre, ele não era páreo para os homens locais.
“Ele temia que o levassem como prisioneiro de guerra - isso teria sido a maior vergonha para um soldado japonês e para sua família em casa”, disse Hatashin. Enquanto os moradores locais o levavam para longe da selva, Yokoi gritava para que o matassem ali mesmo.
Usando as próprias memórias de Yokoi, publicadas em japonês dois anos após sua descoberta, bem como o testemunho daqueles que o encontraram naquele dia, Hatashin passou anos

montando a dramática história de seu tio.
Seu livro, Private Yokoi's War and Life on Guam, 1944-1972, foi publicado em inglês em 2009. “Tenho muito orgulho dele. Ele era uma pessoa tímida e quieta, mas com uma grande presença”, afirma.
O relato acima parece improvável, contudo, o mesmo pode ser uma realidade não apenas no contexto pós-combate, mas sobretudo no contexto corporativo. Não é difícil encontrar médias e grandes corporações que ainda adotam o mesmo modelo protecionista em um mundo atual de constantes transformações, acreditando piamente que o ecossistema de sua atividade econômica ainda seja o mesmo de tempos atrás quando a empresa alcançou seu primeiro estágio de sucesso.
O sargento Yokoi optou em não correr o risco da mudança, e isso custou 28 anos de sua vida e um enorme impacto social ao retornar ao seu país e encontrar um Japão completamente diferente daquele de quando partiu para Guerra. Era exatamente a época em que o "milagre econômico" do Japão estava transformando todo o país e, enquanto dirigia do aeroporto, Yokoi não podia acreditar em seus olhos ao ver imensos novos arranha-céus e blocos de apartamentos, bem como as enormes fábricas ao redor de Nagoya... Yokoi naquele momento estava sendo inserido bruscamente em um novo cenário sem ter se preparado e consequentemente, viveu o resto de sua vida à parte daquele novo Japão. Era tarde demais para se adaptar...
No final do ano de 2020, a revista Forbes apresenta o caso da empresa Waymo que surpreendeu o mercado de táxis com carros 100% autônomos, anunciando o retorno às atividades para o setor na cidade de Phoenix, no estado norte-americano do Arizona. Falando à imprensa, a companhia confirmou que os veículos despachados para atender os chamados do aplicativo Waymo One serão 100% independentes e não trarão nem mesmo um motorista humano como segurança.
Normalmente, serviços de carros autônomos trazem um motorista humano como “backup”, que deverá assumir o volante caso algum imprevisto exija a condução manual do veículo. Por ora, o serviço rodará apenas pelos arredores do condado de Chandler, onde a empresa vinha conduzindo seus testes com veículos do tipo há anos. Mais além, a Waymo não disponibilizará toda a sua frota: de acordo com o CEO John Krafcik, “uma porção” dos 400 carros de modelo Chrysler Pacifica (uma minivan) serão empregados sem elaborar um número exato. “Nós vamos começar já com caronas 100% voltadas ao passageiro para que toda a experiência Waymo One seja sem mãos ao volante, apenas com o consumidor dentro do carro”, comenta Krafcik. “Vamos usar apenas o número de carros necessários para acomodar a demanda que já esperamos. Eu tenho uma sensação…de que haverá mais demanda pelo serviço do que a nossa capacidade será inicialmente capaz de atender”. Complementa o executivo.
O exemplo acima reporta parte das grandes e inúmeras transformações que o mercado global sofreu nos últimos 11 meses, imagine o que será do mercado daqui a 28 anos (sim, esta foi uma analogia proposital à história de Yokoi). As empresas resistentes às mudanças e aos riscos que a mesma traz consigo fatalmente terão o mesmo destino de Yokoi; quando finalmente se depararem com o novo cenário transformado; talvez poderá ser tarde demais.
Mas como uma organização poderá evitar a temida “síndrome de Yokoi”? A resposta para esta pergunta é simples: para prosperar em uma era de mudanças disruptivas, as organizações precisam de um modelo de negócios e uma cultura prontos para o futuro. Para tal, as consultorias especializadas em mudança e transformação organizacional apresentam às organizações “antenadas” três etapas para se transformarem em um negócio “pronto para o futuro”. São elas:
Comece do início:
Depois de ter uma ideia do tipo de organização que gostaria de se tornar, é hora de transformar fazendo. Isso significa que, em vez de realizar seminários para ensinar seus funcionários como se tornarem pensadores inovadores e colaborativos, você os lançará no fundo do poço, imergindo-os em uma mini jornada. Pode ser um único projeto ou iniciativa em um departamento específico, grande o suficiente para causar impacto e estimular uma nova forma de trabalhar, liderar e se comportar, mas não tão grande que fique enterrado na burocracia e nas solicitações de aprovações. Não se preocupe, você não precisa fazer isso sozinho, há no mercado consultorias especializadas em transformações organizacionais alinhadas aos chamados Mega Trends que poderão auxiliar sua organização com relação ao pontapé inicial.
Mude de forma constante e sustentável:
É importante manter a consistência para evitar escorregar de volta ao familiar status quo. Estabeleça padrões comuns para escalabilidade e suporte em todas as dimensões de seu esforço de transformação. Isso significa capacitar e desenvolver habilidades da cultura ágil nas pessoas e equipes. Antes de lançar uma jornada, os membros da equipe devem conhecer e compreender o papel do scrum master, por exemplo, e conhecer os rituais diários e semanais relevantes, bem como as expectativas de trabalhar em uma equipe multifuncional. Deve haver um líder e/ou uma consultoria parceira especializada em transformação organizacional fortes e bem informados no comando, que serão responsáveis por identificar novas jornadas de transformação e garantir que as equipes estejam usando uma metodologia e terminologia comuns.
Valorize os resultados e não apenas os “melhores” resultados:
Dado o ritmo em que os negócios estão mudando, o perfeito é inimigo do bom quando se trata de criar um legado duradouro de transformação. É muito melhor simplesmente começar sua jornada de modernização, em vez de perder tempo tentando acertar.
Seguindo estas três etapas não significa que a organização estará pronta para assimilar as mudanças do mercado e gerar resultados exponenciais com elas, mas terá dado o primeiro e o mais difícil grande passo para sua transformação cultural e organizacional rumo ao seu objetivo final: ser tão boa quanto os novos profissionais da nova era digital. Uma empresa que poderá se orgulhar de sua cultura e de suas pessoas; uma empresa que sempre tira vantagem das mudanças e adversidades.
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